do sopro ao chão.

Tropeçou. Sentiu arder a ponta do pé, a ponta do corpo. Doeu. Porém, já não sabia o quê nela doía, o dedo agora machucado ou o corpo inteiro, há tempos, estilhaçado. Sentou-se na ponta da calçada, como quem espera, sabe-se lá o quê, mas espera. Em um ato de hiato entre minutos que mais pareciam horas, deu-se ao passatempo de devolver pedrinhas à rua. Na verdade, o que doía e latejava era a alma, enclausurada naquele minúsculo corpo, carregando agonias que o tempo não passou, mas sufocou. Abaixou a cabeça, encostando sobre as pernas. As lágrimas escorregaram, tantas e tontas. Tão acumuladas que bastou um tropeço, um sopro no ar, reflexo de sua distração no mundo. Os olhos perdidos, a mente vagando, não se sabe por onde.

Retrato de um náufrago.
O mar, de sensações.
Ela, de sonhos e de angústias.

Comentários

Leandro disse…
tow viajando aki ouvindo tua radio heheheheh
te amo!
Leandro disse…
"Sentou-se na ponta da calçada, como quem espera, sabe-se lá o quê, mas espera. Em um ato de hiato entre minutos que mais pareciam horas"

"em um ato de hiato" - meio metafora, meio personificacao do inanimado, um tanto metalinguistico... genial!
Deveria ser proferido aos quatro ventos... talvez nos versos de uma cancao...
Dan. disse…
ó Jah!
Que liiindo!

tu usa muito bem as palavras. e as joga sem medo do desencaixe. Adoro isso!

dos naufrágios que acumulamos nos nossos mares de sensações.
das ruinas que construimos.
das lágrimas que não desaguam num sorriso.
aaah, fazemos um nó, uma trama, os nossos dramas!

pulsamos e sabemos sentir. :*
Paloma Pajarito disse…
o Mar, de sonhos e angústias. ela, de sensações.
brincadeira com tuas palavras! :}

Postagens mais visitadas