Do que, em ti, arde
Saiu. Em meio ao calor, à pressa, ao aperto e à luz, essa que, agora, queimava-lhe as retinas ... numa tentativa de defesa: lágrimas. Em casa, no banho, com a mente desordenada e o amargo no peito. Entregue às ligeiras, cotidianas e descuidadas ações, tal qual é o sabonete ardendo-lhe os olhos ... numa tentativa de defesa: lágrimas. Então vem o desespero em querer conter a dor, como se a ponta dos dedos fossem realmente ajudar. Alguns segundos a mais e ... era disso que precisara todo esse tempo, da correnteza que alivia a alma. Desaguou toda a sua intensidade, quebrando todo o sufoco, rasgando o seu próprio silêncio. Recolheu-se ao menor azulejo naquele gelado espaço, onde entregou-se a sua mais sincera forma de liberdade. A tempestade, enfim, chegara.